Quando eu pensava que não podia ser mais feliz, manhã após manhã era
mais, mas só um bocadinho mais do que o máximo humanamente possível;
pensava eu ser absolutamente impossível que eu fosse, de repente, muito
mais feliz, do que a própria felicidade até. Mas, de repente, fui. Muito
mais. Casei com o meu amor e o meu amor tornou-se a minha mulher, minha
em tudo, para tudo, para sempre. E eu, finalmente, consegui
divorciar-me de mim e deixar de ser tão triste e a
borrecidamente
meu, trocando-me, no melhor negócio do século, por ela. Ela ficou
minha. Eu fiquei dela. É ou não é estranho e lindo e bem pensado por
Deus Nosso Senhor que ambos pensemos que nos livrámos de boa e ficámos a
ganhar? É.
É sim. A minha
mulher é mais minha do que eu alguma vez fui meu — e eu antes não podia
ter sido mais para mim, felizmente. (...)
Não me venham com modernismos de meia-tijela,
liberalices sem fundamento humano, tretas de quem não ama, de quem não
aspira ser de outro, amado, que nos ama. Casar é trocar. Casar é trocar a
liberdade podre, que é a de cada um, pela posse rica, que é a de quem
se quer. E casando se passa a ter, absolutamente, por vontade de quem se
dá e de quem recebe.
Casando por amor prescinde-se do nosso
pior inimigo (nós próprios), entregando-o a quem sabe e gosta de
aproveitá-lo, abusá-lo, tirar o maior prazer dele. E recebe-se quem mais
queremos, para dela fazermos o que queremos, que é tudo.
Fotografia: Autor desconhecido