Imagina
Alguém te venda os olhos
e te conduz a um local que desconheces...
Quando chegas, ouves uma música
que se confunde com o aroma das velas que ardem.
A temperatura é agradável, acolhedora.
Esse alguém tira-te a roupa, devagar como a música manda.
Depois deita-te sobre uma cama
- e sempre de venda posta –
Derrama um óleo um pouco mais frio que te arrepia.
Quase que consegues ouvir os gritos dos pavios que ardem com vontade.
Um par de mãos espalha com delicadeza o óleo que escorre devagar pelas tuas costas. Com os polegares vai pressionado os músculos que ladeiam a coluna vertebral. E isso arrepia-te.
Depois, com os nós dos dedos, começa a pressionar os lombares até chegar à fronteira do pescoço. Aqui, as mãos envolvem-te os ombros e massajam-nos com mais de força. Sentes um misto de relaxamento e dor...
Uma pausa.
A venda. A música. As velas. O mesmo arrepio, agora nas pernas.
Primeiro, o espalhar do óleo, depois o massajar dos músculos. Ora com mais força, quase a apertar, ora mais devagar... a relaxar. Os dedos que se estendem e passam no limiar de zonas proibidas. A respiração que pára nesses momentos. As mãos que escorregam e se afastam para outras zonas. A respiração que retoma o seu ritmo normal. De novo os dedos. As mãos. Perto, muito perto. A respiração que pára e que acelera. Os dedos. As mãos. Estão ali tão perto.... A venda que não deixa ver. A respiração que atrapalha. As velas a arder com mais vontade. A música a subir de intensidade. Calor, muito calor. Tanto calor. Gelo. Um cubo de gelo que te toca levemente o pescoço. Contorces-te num arrepio. A pele parece querer saltar. Outro toque sobre a coluna e o gelo começa a derreter. O calor que o derrete. O gelo.
O calor que já não atrapalha. O perfume do corpo da pessoa que te massaja, começa a espalhar-se pela sala. Consegues senti-lo. E perturba-te. A venda, a maldita venda que não te deixa ver as mãos que te percorrem o corpo, iluminado pelas velas.
Outra pausa, agora maior. Sentes sopros contínuos. O gemido mudo das velas a adormecer. A música que se cala. O silêncio. O relaxamento. Novamente o silêncio. Consegues ouvi-lo, cheirá-lo, senti-lo. Mas não o podes ver, porque a venda não deixa.
Sentes o silêncio da ausência…
Consegues Imaginar?
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