quarta-feira, dezembro 25, 2013

A morte não é nada.
Apenas passei para o outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro, ainda somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a triste ou solene.
Continues a rir do que ríamos juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou.
Sem nenhum exagero, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou.
Continua sendo o que era.
O cordão da união não se quebrou.
Por que eu estaria fora do teu pensamento, apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho.
Seca tuas lágrimas e, se me amas, não chores mais.
 
Fotografia: autor desconhecido

domingo, dezembro 15, 2013


Onde não puderes amar, não te demores.

Frida Kahlo
Fotografia:Lincoln Clarkes

domingo, dezembro 01, 2013


Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. 
Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas. A minha irmã dizia: são. Algumas pessoas são longe. 
Quando for grande quero ser longe.
Fotografia: Lincoln Clarkes

sábado, novembro 30, 2013

Arruma as malas e foge comigo

terça-feira, novembro 05, 2013

Dar, pedindo que não se agradeça, é a maior das ofertas. 
Oferecer, no bom sentido da bondade, é dar a outros aquilo que nos fará falta ou que mais bem faremos guardando.

Miguel Esteves Cardoso


terça-feira, outubro 22, 2013

Os desgostos de amor são horríveis. E, por serem horríveis, as pessoas dizem que fazem parte; que são o preço; que são um caminho; que dão força e fazem crescer. Tal é o medo de aceitar a totalidade da tragédia que são, que se chega ao ponto de ver os desgostos de amor como um rito de passagem não só para a humanidade como para o próprio amor – o que é muito mais grave. É sempre outrem que fala assim levemente, alguém que, se calhar, nunca teve um desgosto de amor digno do nome ou, se o teve, já o esqueceu e, ao esquecê-lo, provou que nunca amou, por muito desgostoso que tenha ficado. Porque também existe o desgosto de ser abandonado por alguém de quem nos habituáramos a fugir, e de já não ser amado por quem nunca amámos. Mas isso é um simples desgosto que nada tem a ver com o amor. Já um desgosto de amor é um desgosto completo: uma desilusão e uma angústia; uma frustração de quase não existir, que começa por nós próprios, num incêndio de chuva que vai por aí afora até estragar o mundo inteiro, incluindo o que mais se queria proteger: a pessoa amada. Os abutres da consolação pretendem reclassificar os desgostos e ofender o amor e, distraídos pelo prazer necrófilo de cheirar, mesmo numa pessoa amada, a morte do amor alheio – tão secreta e infinitamente invejado! -, chegam a dizer as três palavras mais estúpidas, cruéis, inúteis e indignas daquelas circunstâncias: “Foi melhor assim.” Acrescentando, às vezes, mais duas: “Deixa lá.” Como se pudéssemos responder: “Boa ideia – vou deixar!” Os desgostos de amor estragam a alma. É preciso ter muito medo deles. Respeito. Cuidadinho. Tratar o amor nas palminhas. Mesmo antes de chegar a pessoa que se vai amar. É que os corações partidos ficam partidos. Deixam de poder amar. E, em vez de amar, tornam-se músculos leves e cínicos, trocistas e elegantes. Pode até ser muito giro ser assim. Mas está para o amor como o gosto duma pedra de sal está para o mar. E às vezes ainda é mais triste: é o próprio gosto pelo amor, como quem gosta de um prazer qualquer, que mata o amor – a possibilidade de amar – logo à nascença. Será este o único desgosto, por muito caladinho que seja, tão grande como um desgosto de amor.
Fotografia: Jean Baptiste Mondino

domingo, outubro 06, 2013

 
 Escreve-me muitas vezes
como os percursos ininterruptos das formigas
o ritmo dos girassóis devolvidos à condição de flor
e o reflexo das nuvens no lado interior dos rios
guardados nas minhas mãos
Escreve-me tantas vezes
quantos os nocturnos quase-vazios entre as estrelas
os quebrantos de mar aos pés prateados da lua
e as intuições anunciadas na respiração dos dedos dos amantes
Nunca deixes de me escrever
como se o tempo das palavras fosse o dos regressos
confirmado na existência e docilidade das pedras
Nunca deixes de me sentir

Sandra Costa

terça-feira, outubro 01, 2013

domingo, setembro 15, 2013

Não podemos poupar nas palavras com as pessoas que amamos.
Fotografia: autor desconhecido
Ouve-se: 30 Seconds to Mars - The race

sexta-feira, setembro 13, 2013

As palavras começam a ficar velhas: têm
dores nas articulações e rangem, de vez
em quando, sem razão; reclamam óleos
e resinas, tempo e açúcares mais lentos.
 
 Mas também eu estou velha demais para
oficinas, tão cansada de livros e papéis,
morta por viver outras coisas – por amor,

talvez espreitasse de novo nas mangas do
mundo e escrevesse uma fiada de búzios
no pulso da areia. Mas quantos dos teus
beijos perderia? Perdoem-me os que
ainda esperam por mim. 
 
Não sei se volto.

Fotografia: Peter Lindberg
 

segunda-feira, agosto 19, 2013


"Hoje dói-me pensar,
dói-me a mão com que escrevo,
dói-me a palavra que ontem disse
e também a que não disse,
dói-me o mundo.
Há dias que são como espaços preparados
para que tudo doa."

Hoje festejas o teu aniversário e mais uma vez não estou contigo.
A vida não espera meu Amor.


Fotografia: Martin Waldbauer 

domingo, agosto 04, 2013

Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais.

Ana Jácomo
Fotografia: Vincent Peters

segunda-feira, julho 22, 2013

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.


Affonso Romano de Sant’Anna in Lado Esquerdo do Meu Peito
Fotografia: Luís Sarmento

sábado, julho 13, 2013

Eu sempre perguntava coisas tontas,
é certo. Perguntava, por exemplo,
se voltarias a amar-me tanto
como nos dias do amor mais jovem,
ou mesmo mais, ou mesmo mais que nunca,
mesmo mais que a ninguém, e se serias
capaz de confessá-lo ante qualquer.
É certo, perguntava coisas tontas,
não merecia uma resposta séria.
Aquele ser, mais escuro que a noite
mais escura da alma, respondia
sem olhar-me nos olhos: «Nunca mais.»
"O céu deu-nos o hábito, bom substituto da felicidade."


Alexander Puschkine
Fotografia: Christophe Kutner
Ouve-se: Capital Cities - Safe and Sound

terça-feira, junho 25, 2013

Alguns anos depois, tinham desaparecido todos os vestígios da ferida
 
 
Conduzir mas sem ter um acidente,
comprar massas e desodorizantes
e cortar as unhas às minhas filhas.
Madrugar outra vez e ter cuidado
em não dizer inconveniências,
esmerar-me na prosa de umas folhas
e estou-me nas tintas para elas,
retocar de vermelho cada face.
Lembrar-me da consulta ao pediatra,
responder ao correio, estender roupa,
declarar rendimentos, ler uns livros,
fazer umas chamadas telefónicas.
Bem gostaria de me dar ao luxo
de ter o tempo todo que quisesse
para fazer só coisas esquisitas,
coisas desnecessárias, prescindíveis
e, sobretudo, inúteis e patetas.
Por exemplo, amar-te com loucura.

Amalia Bautista
 

domingo, junho 09, 2013

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só.

Fotografia: Remus Tiplea
Ouve-se: Muse - Madness 





domingo, maio 26, 2013

Continuar com a vida como se nada tivesse acontecido é uma capacidade, não tenho dúvidas. 
Contudo, algumas vezes pergunto-me até que ponto fará sentido ignorar a capacidade de sentir algum tipo de emoção.

Fotografia: Jean Paul Baptiste

 

segunda-feira, maio 20, 2013

 Aos poucos começo a despir esta inocência.
E depois?

Fotografia: Steven-Meisel

quarta-feira, maio 15, 2013

"Temos de saber quando devemos ministrar a dose e em que quantidade - e se esta tem ou não de ser repetida."

Todo o desvio tem o seu preço.
 
 

segunda-feira, abril 22, 2013

Duas horas da manhã. Os ratos procuram nos caixotes os restos do dia morto: a cidade pertence aos fantasmas, aos assassinos, aos sonâmbulos. Onde estás tu, em que leito, em que sonho? Se te encontrasse, tu passarias sem me ver pois não somos vistos pelos nossos sonhos. Não tenho fome: esta noite não consigo digerir a minha vida. Estou cansada: caminhei toda a noite para semear a tua recordação. Não tenho sono: nem sequer tenho apetite da morte. Sentada num banco, embrutecida apesar de tudo pela aproximação da manhã, deixo de me lembrar que te procuro esquecer. Fecho os olhos... os ladrões não querem senão os nossos anéis, os amantes a carne, os pregadores as nossas almas, os assassinos a vida. Podem tirar-me a minha: desafio-os a nada lhe mudar. Inclino a cabeça para ouvir por cima de mim o remexer das folhas... Estou num bosque, num campo... É a hora em que o Tempo se disfarça de varredor e Deus talvez em trapeiro. Ele avarento, ele teimoso, ele que não consente que se perca uma pérola nos montes de cascas de ostras às portas das tabernas. Pai nosso que estais no céu... Verei alguma vez vir sentar-se a meu lado um velho de sobretudo castanho, com os pés enlameados por ter tido, para me alcançar, de atravessar sabe Deus que rio? Ele deixar-se-ia cair no banco, tendo na mão fechada um presente muito precioso que seria o bastante para tudo mudar. Abriria os dedos lentamente, um após outro, muito prudentemente, por que aquilo foge... Que seguraria ele? Uma ave, um germe, uma faca, uma chave para abrir a lata de conserva do coração?
Fotografia: Mark Seliger

quarta-feira, abril 10, 2013

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Fotografia: Steven Meisel
 

terça-feira, abril 09, 2013

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

A minha maneira de amar-te é simples:
aperto-te a mim
como se tivesse um pouco de justiça no coração
e ta pudesse dar com o corpo

Quando te revolvo os cabelos
algo de lindo nasce das minhas mãos

E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração.
Fotografia: Martin Waldbauer

segunda-feira, março 25, 2013

Às vezes morre-se tanto, e tão cedo
Fotografia: Deshi 

sábado, março 23, 2013

Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba
Helder Moura Pereira
Fotografia: Robert Doisneau

domingo, março 17, 2013

E assim de repente a palavra amor adquiriu todo um novo sentido

segunda-feira, março 11, 2013

Conta-me outra vez, é tão bonita
que não me canso nunca de a ouvir.
Repete-me de novo, os dois da história
foram felizes até à morte,
ela não foi infiel, ele nem
se lembrou de a enganar. E não te esqueças,
apesar do tempo e dos problemas,
continuavam a beijar-se cada noite.
Conta-me mil vezes, por favor:
é a história mais linda que conheço.

Fotografia: Peter Lindbergh

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

"Amamos o que não conhecemos, o já perdido" (...)

Fotografia: Martin Waldbauer
 

domingo, fevereiro 24, 2013


Saiba, pois, que sou muito senhora da minha vontade, mas pouco amiga de a exprimir; quero que me adivinhem e obedeçam; sou também um pouco altiva, às vezes caprichosa, e por cima de tudo isso tenho um coração exigente. Veja se é possível encontrar tanto defeito junto!

Machado de Assis
Fotografia: Ellen Von Unwerth
Ouve-se: Bruno Mars - When i was your man
 
Destiny has two ways of crushing us - by refusing our wishes and by fulfilling them.


sábado, fevereiro 16, 2013


Amanheci em cólera.
Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor em vez de dar exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.


Clarice Lispector in A Descoberta do Mundo
Fotografia: Vincent Peters
Ouve-se: Emeli Sandé - Clown

quarta-feira, fevereiro 13, 2013


Cheguei a casa há pouco e amanhã
celebrarei contigo pela primeira vez
esse dia que alguém convencionou
ser para os namorados: eu e tu,
dois seres quase sonâmbulos,
afogados em histórias mal cicatrizadas
que extravasam ao longo de conversas
pelas estradas nocturnas por onde fugimos
da vida que nos dói: velhos amores
refulgindo na tua memória,
na minha fantasia que os volta a viver
em ti, por ti, como se também eu
ressentisse na pele o sabor desses beijos
esvaindo-se no tempo, que lhes toca,
ao de leve, com lábios de veludo,
e os arrasta num caudal de espectros
de vagas silhuetas, na penumbra
que foi a minha vida até chegar a ti.

Fotografia: Vincent-Peters

domingo, fevereiro 03, 2013

Todos precisamos que nos amem.
Porém, alguns infelizes,
não sabemos viver para outra coisa.

Amalia Bautista
Fotografia: Mark Seliger

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Dizes que me amas de uma tal forma,
que não consigo deixar de corar;
que me amas de um modo primitivo,
sem razão aparente e sem desculpas
e que me amas porque me desejas,
porque sabes que eu também te amo
e como o monstro deste amor nos devora
a alma, a paciência e as maneiras.
É uma pena que todas estas coisas
morram em nós afogadas de silêncio.


Amalia Bautista
 

domingo, janeiro 20, 2013


a lua está hoje a metade

lembra-te que às vezes

o meu coração também

Fotografia: Jean Baptiste Mondino

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Era uma vez uma menina cujo coração batia mais rápido que o das outras pessoas.
Isso incomodava toda a gente...
Por causa do barulho…
O coração batia tão alto!...

Ela tentava explicar:
“É um coração de pássaro... Eu estou no corpo errado!... Daí o coração bater tão rápido... Eu sou um pássaro..."

 “Que é que ela disse?... é tolinha... não deve durar muito…”

Então, ela fugia...
Ela só queria desaparecer… deixar-se levar pelo vento...
Finalmente, a chuva acalmava-a, então ela voltava p’ra casa e continuava a viver, apesar de tudo.
Pouco a pouco as pessoas foram-se habituando ao barulho do coração…
Acabaram mesmo por esquecê-la…
Ninguém se apercebeu do que se passava...
E isso era bom para ela…
Também ela se habituava…
Começou mesmo a gostar do seu corpo…
E sentia-se cada vez mais leve…
Ninguém reparou como sorria, de olhos postos no céu.

E depois… um dia…

As pessoas já não sabiam se era alguém que morria, ou alguém que nascia...
Mas uma coisa era certa… ninguém se importaria de partir assim…


Regina Pessoa, in História trágica com final feliz
Fotografia: Steven-Meisel 

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Não te sei perder.
  É uma conclusão simples
 
Fotografia: Jean Baptiste Mondino 

sábado, janeiro 05, 2013

Agora que não nos vemos
e as nossas vidas correm pelos dias
cada vez mais longínquas,
sinto, às vezes, uma vontade enorme
de te ver uma tarde, tomar café
contigo, saber como vais…

Agora que não nos vemos
e nos perdemos aos dois,
não penses que esqueci as tuas coisas.
Guardo boas lembranças, e poemas
que te escrevi (lembras-te?); guardo
cartas e fotografias…
E um lugar
na minha alma, onde, se quiseres,
sempre, sempre podes estar.

Abel Feu
Fotografia: Saty + Pratha

terça-feira, janeiro 01, 2013

"A casa vai-se esvaziando a pouco e pouco e começam a faltar pessoas e coisas nos compartimentos que aumentam. Aumenta a sombra também porque há quartos que deixaram se abrir e onde o ar parou. Mesmo que não ganhem pó parecem mortos, os móveis que sobejam hirtos e dignos, uma fotografia com um sorriso que se não dirige a ninguém, olhos que desistiram de nos alcançar, indiferentes. Em que sítio vivem agora? "

Fotografia: Steven Meisel