quarta-feira, novembro 28, 2007


Hoje gostaria de Me sentir importante!

Só hoje, gostaria que alguém,

consciente ou inconscientemente,

nas suas escolhas,

grandes ou pequenas,

se lembrasse de Mim.

sábado, novembro 10, 2007


O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas -

Essas e o que faz falta nelas eternamente -;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas,

E eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo,

Ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...

E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo,

Cansaço...

Álvaro de Campos

sexta-feira, novembro 09, 2007

Imagina

Alguém te venda os olhos

e te conduz a um local que desconheces...

Quando chegas, ouves uma música

que se confunde com o aroma das velas que ardem.

A temperatura é agradável, acolhedora.

Esse alguém tira-te a roupa, devagar como a música manda.

Depois deita-te sobre uma cama

- e sempre de venda posta –

Derrama um óleo um pouco mais frio que te arrepia.
Quase que consegues ouvir os gritos dos pavios que ardem com vontade.
Um par de mãos espalha com delicadeza o óleo que escorre devagar pelas tuas costas. Com os polegares vai pressionado os músculos que ladeiam a coluna vertebral. E isso arrepia-te.
Depois, com os nós dos dedos, começa a pressionar os lombares até chegar à fronteira do pescoço. Aqui, as mãos envolvem-te os ombros e massajam-nos com mais de força. Sentes um misto de relaxamento e dor...

Uma pausa.

A venda. A música. As velas. O mesmo arrepio, agora nas pernas.
Primeiro, o espalhar do óleo, depois o massajar dos músculos. Ora com mais força, quase a apertar, ora mais devagar... a relaxar. Os dedos que se estendem e passam no limiar de zonas proibidas. A respiração que pára nesses momentos. As mãos que escorregam e se afastam para outras zonas. A respiração que retoma o seu ritmo normal. De novo os dedos. As mãos. Perto, muito perto. A respiração que pára e que acelera. Os dedos. As mãos. Estão ali tão perto.... A venda que não deixa ver. A respiração que atrapalha. As velas a arder com mais vontade. A música a subir de intensidade. Calor, muito calor. Tanto calor. Gelo. Um cubo de gelo que te toca levemente o pescoço. Contorces-te num arrepio. A pele parece querer saltar. Outro toque sobre a coluna e o gelo começa a derreter. O calor que o derrete. O gelo.

O calor que já não atrapalha. O perfume do corpo da pessoa que te massaja, começa a espalhar-se pela sala. Consegues senti-lo. E perturba-te. A venda, a maldita venda que não te deixa ver as mãos que te percorrem o corpo, iluminado pelas velas.

Outra pausa, agora maior. Sentes sopros contínuos. O gemido mudo das velas a adormecer. A música que se cala. O silêncio. O relaxamento. Novamente o silêncio. Consegues ouvi-lo, cheirá-lo, senti-lo. Mas não o podes ver, porque a venda não deixa.

Sentes o silêncio da ausência…

Consegues Imaginar?