segunda-feira, abril 12, 2010

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.
Maria Teresa Horta

quinta-feira, abril 08, 2010

"Deixo que a minha vida decorra acompanhada de um sereno, aprazível tédio. Discrição, geometria, elegância e calma. Já não me agito, já não sigo pelo lado mais estúpido da vida, as estrelas são mapas de abismos exteriores, não tolero a solidão, temo a insídia do tempo e da idade, a insónia, o tremor dos limites.
Porque as minhas constantes vitais desta manhã são o sol que saúda os despertares, a descoberta do prazer de ser cortês, a revelação algo tardia de que tudo é excepcional, a entrega de gentileza na relação com as pessoas, a impressão de viver em plena tempestade de calma, a satisfação de ter perdido uns quilos, a gestão da herança literária do antigo ocupante do meu corpo, a abordagem suave de uma lógica espartana do trabalho, a crença de que os gordos são os outros, a utilização da ironia moldada como rasgo de elegância, de tímida felicidade, definitivamente."
Enrique Vila-matas - Exploradores do Abismo

sábado, abril 03, 2010

"Durante anos procuramos encontrar alguém que nos compreenda, alguém que nos
aceite como somos, capazes de nos oferecer a felicidade, apesar das duras
provas. Apenas ontem descobri que esse mágico alguém é o rosto que vemos no
espelho."
Richard Bach