domingo, maio 14, 2006


Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo.

Pablo Neruda

sábado, maio 13, 2006

"Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra,

Seja no meio do deserto ou seja no meio das grandes cidades,

E quando estas pessoas se cruzam e seus olhos se encontram

Todo o passado e todo o futuro perde qualquer importância,

E só existe aquele momento "

(PAULO COELHO)

" A essência das coisas é senti-las tão densas e tão claras,

que não possam conter-se por completo nas palavras."

(GLÓRIA DE SANT'ANNA)

sexta-feira, maio 12, 2006

Procuramos desenhar uma vida
mas por vezes não sabemos pegar no lápis



Há sentimentos que nos deixam assim...

quinta-feira, maio 04, 2006



Tudo o que sou

não é mais do que abismo
Em que uma vaga luz
Com que sei que sou eu,

e nisto cismo,
Obscura me conduz.

Um intervalo

entre não-ser e ser
Feito de eu ter lugar
Como o pó,

que se vê o vento erguer,
Vive de ele o mostrar.


Fernando Pessoa

quarta-feira, maio 03, 2006

"(...) constrói a vida no fulgor desesperado do instante.(...)Onde tudo, reduzido ao essencial, tem a duração da eternidade."


"Arranjar um homem é fácil. E gostar dele?"

- Responde-lhe que sim, mesmo que estejas morta de medo, mesmo que te venhas a arrepender, porque, de qualquer maneira, vais-te arrepender durante toda a vida se lhe responderes que não.
Gabriel García Márquez, Amor nos Tempos de Cólera

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

(Eugénio de Andrade)

terça-feira, maio 02, 2006

"Depois de as coisas acontecerem é quase irresistível reflectir sobre o que teria sido a vida se se tem feito diferente."
Miguel Sousa Tavares, "Equador"


"When you came my way You brightened every day
With your sweet smile"

Entre a espera e a ilusão de um novo encontro, nasce a velocidade de um tempo inacabado, cuja pressa te deixa sem palavras. Lutas contra ele. No fim de contas, aquilo que fazes realmente é dar-lhe forças que te sufoque nos seus braços.

O tempo é dono de ti, num adiamento eterno da tua vontade.


segunda-feira, maio 01, 2006



Como é que eu sei se já dei o melhor de mim, alguma vez? E se isso não tiver sido suficiente?

Há estragos que nunca se regeneram...

Em que língua se diz, em que nação, em que outra humanidade se aprendeu a palavra que ordene a confusão que neste remoinho se teceu? Que murmúrio de vento, que dourados cantos de ave pousada em altos ramos dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago - Os Poemas Possíveis