quinta-feira, outubro 29, 2009




O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias, como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo, mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar, que eu amava quando imaginava que amava.
Era a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto.
Era a tua pele.
Antes de te conhecer, existias nas árvores e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
Muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
 
José Luís Peixoto

quinta-feira, outubro 08, 2009


 
"Habituamo-nos a tratar os amores como electrodomésticos: quando se escangalham, vamos ao supermercado comprar um novo, igualzinho ao que o outro era. 
Consertar? 
Não compensa: o arranjo sai caro, além de que nunca se sabe muito bem onde procurar a peça que falta. 
Substituímos a eternidade pela repetição, e o mundo começou a tornar-se monótono como uma lição de solfejo. 
Tememos a maior das vertigens, que é a da duração. Mas no fim de cada sucesso há um cemitério como de Julieta e Romeu, apenas com a diferença da aura, que é afinal tudo."
 
Inês Pedrosa 
Nas tuas mãos

sábado, outubro 03, 2009

O Silêncio é, por natureza, provocador de diálogos,
e suscita, invariavelmente, muitos sons até então desconhecidos.