sábado, março 26, 2011


Uma mão fria aperta-me a garganta e não me deixa respirar a vida.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa.
Foto: José Vaz
Ouve-se: Agarra-me esta noite - Pedro Abrunhosa

terça-feira, março 22, 2011

Diogo deu a mão à rapariga e depois um beijo e logo se seguiu um abraço e tudo recomeçou; as línguas devoraram as bocas e as mãos exploraram os corpos, os ventres colidiram esfaimados.(...)
"Não" disse. "Isso não!"
O soldado sentia-se perder o controlo, mas conseguiu deter-se.
"Porque? Não Queres?"
Ela exalou um som estranho, mistura de suspiro com gemido.
"Oh, se quero! Mas não posso! Nao posso!"
"Porque?"
"Porque... porque é cedo.Mal nos conhecemos!..."
Diogo inclinou-se sobre o rosto dela e colou os lábios aos lábios dela.
"Mas eu amo-te"
"Eu também...", titubeou "eu também...mas não podemos!... Precisamos de tempo"
(...)
"Não temos tempo, meu amor"
"Que disparate! Claro que temos! Temos o tempo que quisermos"
"Eu sou um soldado meu amor" murmurou, lançando o às que tinha na manga.(...)"isso quer dizer que nem sei se amanhã estarei vivo. Entendes isso?"
(...)
A rapariga começou a chorar.
"Não... Não quero... Não te pode acontecer nada!..."
"E se acontecer? Como podes tu negar-nos o amor que merecemos? Como poderás tu viver com a consciência de que nem sequer me deixaste amar-te como um homem ama uma mulher?" (...)"Ama-me como se me perdesses amanhã".
Incapaz de resistir mais um segundo que fosse, Sheila puxou-o para si, estreitando-o num abraço esfaimado, e beijo-o longamente na boca. O rapaz sentiu o corpo dela abandonar as defesas e as pernas entreabrirem-se, numa rendição que era também um convite, sínal inequivoco que o ferro se dobrara enfim (...)

José Rodrigues dos Santos - O Anjo Branco

quarta-feira, março 09, 2011

corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te porque parto
porque amo
ouvir-te perguntar quem fala ?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer

Al Berto, O Medo

Foto: Paul Pancadas

sexta-feira, março 04, 2011

Parece haver de novo grades nas janelas
e poucos - tão poucos! -
que queiram ver para além delas.

Luísa Veríssimo, in Mais Poemas, inédito, 2008

quinta-feira, março 03, 2011

Esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal. A esperança requer uma certa perseverança — i.e., acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. O sentido de crença deste sentimento o aproxima muito dos significados atribuídos à fé.

Wikipedia
Foto: Aniix