terça-feira, outubro 21, 2008


Despedidas

Começo a olhar as coisas
como quem, se despedindo, se surpreende
com a singularidade
que cada coisa temde ser e estar.
Um beija-flor no entardecer desta montanha
a meio metro de mim, tão íntimo,
essas flores às quatro horas da tarde, tão cúmplices,
a humidade da grama na sola dos pés, as estrelas
daqui a pouco, que intimidade tenho com as estrelas
quanto mais habito a noite!
Nada mais é gratuito, tudo é ritual
Começo a amar as coisas
com o desprendimento que só têm os que amando tudo o que perderam já não mentem.
(Affonso Romano de Sant'Anna)
www.joseferreira-photographer.com

quarta-feira, junho 25, 2008

- No que estás a pensar? - Perguntou Pierre, fixando-a.
- Em como é triste deixar-te, sem me ter dado a ti verdadeiramente.

terça-feira, junho 24, 2008


"Não me digas nada,
vejo que me entendes,
mas tenho receio dessa compreensão,
tenho medo de encontrar alguém semelhante a mim
e ao mesmo tempo desejo-o.
Sinto-me tão definitivamente só,
mas tenho tanto medo que o isolamento seja violado
e eu não seja mais o cérebro e a lei do meu universo.
Sinto-me no grande terror do meu entendimento,
meio por que penetras no meu mundo;
e que, sem véus, tenha então que partilhar o meu reino"
Anais Nin

quarta-feira, junho 11, 2008

A pior coisa nos finais é sabermos que
mesmo à nossa frente se encontra a tarefa esmagadora de começar de novo.
Uma Questão de Fé, Jodi Picoult

quinta-feira, março 20, 2008

Se temos de perder uma pessoa que nos é muito cara, quem não preferiria que ela morresse, em vez de ir simplesmente recomeçar a viver noutro sítio? Pode tolerar-se que aquela que era toda a nossa vida cesse de ser tal e comece a sê-lo para outrem ou para si própria?

Cesare Pavase

quarta-feira, fevereiro 20, 2008


Naquele dia
Vestira o meu corpo
Sem a alma,
Vestira o meu corpo
Sem a alegria,
Lavei os dentes
E esqueci-me do
sorriso no lavatório,
Lavei as mãos
E deixei o tacto na toalha;
Nesse dia
Após o trabalho fui dormir,
Deitei o corpo
E reencontrei a alma.
No dia seguinte
Vesti a alma
E deixei metade do corpo esquecido
E a memória no secador de cabelo...
E algo inesquecível de que não me lembro aconteceu:
Porque hoje tenho a alma mutilada
E nem o corpo tenho.
Tiago Nené
Cocktail Bukowski