sábado, abril 25, 2009

Quero dizer-te uma coisa simples:
A tua ausência dói-me.
Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais. Podia dizer-te e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória e a realidade aproxima-me de ti. Agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder uma coisa simples como: dizer que a tua ausência me dói, dizer que te adoro, ou ainda o quão importante és para mim.
Nuno Judice

sexta-feira, abril 24, 2009


Quero definir-te o que é este sentimento:
o que pertence à esfera daquilo que a razão
não domina, ou simplesmente nasce da noite,
e de tudo o que a envolve. Falo de uma
íntima relação entre os seres, de emoções
que se transmitem para além de palavras e
conceitos, de um encontro de corpos na
esfera do segredo. Dir-me-ás: "Para que precisas
de uma explicação para o amor?"
Mas é a sua inutilidade que me interessa;
a dádiva, o simples dizer que as coisas são
assim porque são, e para além disso tudo se complica.
Podes, então, rir do que te digo;
ou simplesmente dizer-me que
as palavras nada substituem, e que tudo o que
elas nos dão está a mais. Mas o amor
pertence-nos. Não o podemos deitar fora;
nem fingir que não existe, como não existe
o infinito, a transcendência, a abstracção
divina, para quem só crê no concreto.
É verdade que o amor não se vê: o que vejo
são os teus olhos, a ternura súbita das
suas pálpebras, e o que elas abrem e
escondem numa hesitação de luz.
Eis, então, o que define este sentimento:
um intervalo, uma distracção do tempo,
a divina abstracção do infinito
na transcendência do real.

Nuno Júdice