domingo, dezembro 09, 2012



Carta de Fernando Pessoa a Ophélia Queiroz


Ophelinha querida,


Pensavas tu que me iria esquecer de te dizer um último adeus, um último adeus à pessoa que mais amei neste mundo?
És e serás sempre a minha mulher, a minha doce mulher que nunca me abandonou e me foi companheira de longas horas nesta minha curta vida que agora chega ao fim. Agora apenas posso ser amado pela morte, e magoar quem vai ficar neste mundo a chorar a minha ida para a outra vida.

Tenho curiosidade de como será a outra vida. Será como um sonho? Será como nadar num mar de água quente para toda a eternidade? Será uma seara de trigo sem fim a vista onde o sol nunca vai embora e a brisa que o vento sopra é fresca como os teus beijos em tempos foram, frescos e suaves na minha pele áspera e já velha.

Coloco em ti o pouco que ainda me resta da minha vida, pois é por ti que ainda me encontro vivo. Por todos os momentos que os nossos corpos e bocas se procuraram e se encontraram, pelas horas que fiquei a ver a tua beleza através do vidro da tua janela...Nem um vidro te tira o dom de ser bela.

Meu amor, está na hora de ir, na hora de partir. Nunca pares de lutar pelo que queres e acredita em ti meu amor. Levo no meu coração todos os segundos que passei a teu lado, todas as vezes que te disse amo-te e levo também esta minha vida que ganhou brilho contigo a meu lado.


Do sempre e muito teu teu,
assinatura de Fernando Pessoa 

Fotografia: Robert Doisneau





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